A tendinopatia patelar, popularmente conhecida como “joelho do saltador”, é uma condição comum entre atletas que praticam esportes de impacto, como basquete, vôlei e atletismo. É uma lesão por sobrecarga caracterizada por dor, inflamação e disfunção persistentes no tendão patelar, podendo afetar significativamente o desempenho atlético e a qualidade de vida. Este artigo explora os avanços recentes no entendimento, diagnóstico e reabilitação da tendinopatia patelar, com base em revisões sistemáticas e estudos clínicos.
Fatores causais e diagnóstico da tendinopatia patelar
A tendinopatia patelar apresenta desafios tanto no diagnóstico quanto na reabilitação. Além disso, sua causa é atribuída a fatores multifatoriais, incluindo sobrecarga mecânica, biomecânica alterada e padrões inadequados de movimento. Ademais, estudos recentes destacam o papel das alterações no controle motor e da plasticidade neuromuscular como elementos fundamentais na patogênese dessa condição.
Principais Achados:
- Primeiramente, a carga repetitiva sobre o tendão patelar é um fator de risco central.
- Em segundo lugar, alterações no controle corticospinal podem predispor à recorrência da condição.
- Por fim, a avaliação clínica deve incluir testes funcionais, como o agachamento declinado unipodal, e exames de imagem, como a ressonância nuclear magnética do joelho. Os exames de imagem ajudam a confirmar alterações estruturais no tendão.
Déficits de força na tendinopatia patelar
Força extensora do joelho
Inicialmente, pesquisas recentes indicam que a força extensora do joelho, tanto isométrica quanto concêntrica, é significativamente reduzida em indivíduos com tendinopatia patelar em comparação com grupos controle assintomáticos. Assim, os estudos mostram que:
- Déficit médio: a força isométrica extensora foi 14% menor em indivíduos com tendinopatia patelar.
- Heterogeneidade: os resultados variam de acordo com a duração e severidade da lesão.
Força flexora do joelho e do quadril
Contudo, embora a força flexora do joelho e do quadril também apresente déficits em indivíduos com tendinopatia patelar, a evidência ainda é limitada e inconsistente. Portanto, estudos sugerem:
- Força do quadril: reduções na extensão e rotação externa do quadril foram observadas, indicando impacto proximal.
- Força flexora do joelho: embora menos explorada, déficits podem estar associados a alterações na cadeia cinética inferior.
Mecanismos Subjacentes
Consequentemente, os déficits de força observados podem estar relacionados a fatores como:
- Alterações neurofisiológicas: inibição neural e redução do drive neuromuscular.
- Mudanças morfológicas: alterações estruturais no tendão, como menor rigidez e capacidade de transmissão de força.
Abordagens de tratamento da tendinopatia patelar
Entretanto, o tratamento da tendinopatia patelar evoluiu dos métodos tradicionais para incorporar abordagens baseadas em evidências, incluindo exercícios de força, técnicas neuromusculares e estratégias de controle de carga.
1. Exercícios de força progressiva: em primeiro lugar, programas de treinamento progressivo, como exercícios excêntricos e de resistência lenta, demonstraram eficácia significativa na redução da dor e na melhoria da função.
2. Treinamento neuroplástico: além disso, conceitos de treinamento neuroplástico integram exercícios com ritmo externo (uso de metrônomos ou estímulos visuais), promovendo maior controle motor e redução da dor.
3. Terapias combinadas: finalmente, intervenções como terapia manual e técnicas de liberação miofascial, quando combinadas com exercícios de força, otimizam os resultados funcionais.
Estratégias para reabilitação da tendinopatia patelar
Por conseguinte, com base nas evidências, as estratégias de reabilitação para tendinopatia patelar devem ir além do foco exclusivo em exercícios excêntricos, tradicionalmente utilizados. Algumas recomendações incluem:
1. Reabilitação isométrica e concêntrica
- Objetivo: primeiramente, restaurar a força máxima em diferentes modos de contração.
- Abordagem: em seguida, incluir exercícios progressivos que combinem carga isotônica e isométrica.
2. Abordagem Multidimensional
- Fortalecimento proximal: além disso, incorporar exercícios para os músculos do quadril, especialmente extensores e rotadores externos.
- Treinamento funcional: ademais, simular padrões de movimento específicos do esporte.
3. Progressão de cargas
- Adaptação ao tendão: portanto, ajustar as cargas de forma progressiva para melhorar a capacidade do tendão sem sobrecarregá-lo.
- Foco na funcionalidade: por fim, garantir que a reabilitação integre movimentos esportivos complexos.
Aplicação prática
Como usar na prática clínica:
- Avaliação individualizada: inicialmente, cada plano deve considerar a gravidade da condição e as metas do paciente. Deve-se medir a força extensora e flexora do joelho, bem como a força do quadril.
- Treinamento progressivo: em seguida, desenvolver programas de exercícios personalizados, combinando contrações isométricas e concêntricas. Utilize métricas como dor durante atividades e questionários funcionais (ex.: VISA-P) para ajustar o protocolo.
- Monitoramento contínuo: além disso, usar feedback em tempo real, como dinamometria isocinética, para ajustar os programas de treinamento.
- Incorporar novas tecnologias: por fim, dispositivos vestíveis podem ajudar a monitorar cargas e padrões de movimento, prevenindo recidivas.
Benefícios para atletas
- Retorno ao esporte: primeiramente, aumentar a confiança no desempenho físico.
- Prevenção de recorrências: por fim, reduzir o risco de novas lesões através do fortalecimento global.
Resumo das evidências científicas
Consequentemente, pesquisas recentes apontam que:
- Cargas progressivas melhoram a força do tendão e reduzem a dor.
- Plasticidade neuromuscular é essencial para recuperar o controle motor.
- Abordagens combinadas de treinamento excêntrico e neuroplástico oferecem os melhores resultados.
Aplicações na vida real
Sendo assim, para o público em geral, práticas como evitar sobrecarga excessiva, utilizar calçados adequados e manter uma rotina de fortalecimento muscular são essenciais para prevenir lesões. Portanto, atletas devem trabalhar com treinadores e fisioterapeutas para ajustar cargas e evitar padrões inadequados de movimento.
Conclusão
Em conclusão, a reabilitação da tendinopatia patelar exige uma abordagem abrangente que integre estratégias de controle de carga, fortalecimento muscular progressivo e treinamento neuroplástico. Assim, evidências destacam que o uso de exercícios excêntricos, aliado a intervenções que consideram a plasticidade neuromuscular, promove não apenas o alívio da dor, mas também a recuperação funcional do tendão.
Além disso, a inclusão de programas de resistência lenta e técnicas baseadas no controle motor demonstra que o foco deve ir além do tendão, abordando o corpo como um todo, incluindo a cadeia cinética e o controle biomecânico. Portanto, a personalização do tratamento e o monitoramento contínuo do progresso garantem que as intervenções sejam adaptadas às necessidades individuais de cada paciente.
Por fim, para profissionais e público em geral, é fundamental compreender que a prevenção desempenha um papel crucial. Ajustar cargas de treinamento, investir em fortalecimento regular e respeitar os limites do corpo são ações essenciais para minimizar o risco de lesões. Ao integrar as evidências científicas disponíveis e aplicar práticas personalizadas, é possível alcançar uma recuperação eficaz e um retorno seguro às atividades físicas.
Cordialmente, Equipe Editorial UME
Referências
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