O Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) é uma realidade que afeta milhões de pessoas no mundo todo, com consequências devastadoras que se estendem muito além do indivíduo afetado. A cada ano, quase 100 mil pessoas perdem suas vidas devido a overdoses de drogas, muitas envolvendo opioides. Com toda certeza, o exercício na dependência por uso de substância é uma ferramenta poderosa para melhorar a saúde física e mental.
Recentemente, estudos têm investigado como o exercício físico pode atuar na recuperação de pessoas com dependência por uso de substâncias. Este artigo examina as evidências científicas e práticas que suportam a integração do exercício como parte do tratamento para indivíduos com TUS, abordando também os desafios e estratégias para implementação prática.
Vínculo entre transtorno por uso de substâncias e saúde mental
A dor crônica e os desafios que envolvem a saúde mental são constates na vida de pessoas que lutam contra o transtorno por uso de substâncias. Esses fatores são de extrema importância tanto para a medicina quanto para a política social. Pois podem interferir negativamente no tratamento e recuperação, aumentando assim os custos com o setor de saúde.
No entanto, o exercício físico surge como uma estratégia promissora que promove não só melhoras nos sintomas de dor crônica, mas também é de grande importância na saúde mental, auxiliando pacientes que desenvolveram ansiedade e depressão pelo uso excessivo de substâncias.
Benefícios do Exercício na Recuperação da Dependência por Uso de Substâncias
Estudos têm demonstrado, de forma consistente, que o exercício físico desempenha um papel crucial na recuperação de pacientes com transtorno por uso de substâncias. Os transtornos por uso de substâncias afetam milhões de pessoas, e a integração de estratégias de tratamento eficazes é crucial para melhorar os resultados de recuperação.
Além de melhorar os resultados relacionados à abstinência, o exercício oferece uma via alternativa para lidar com o estresse e a ansiedade, muitas vezes principais desencadeadores de recaídas.
Principais Benefícios:
- Redução da Ansiedade e Depressão: O exercício ajuda a regular neurotransmissores e redes cerebrais, promovendo uma melhora no humor e na saúde mental.
- Melhora na Saúde Física: A atividade física regular melhora a dor crônica, a capacidade cardiovascular, a força muscular e a composição corporal.
- Aumento das Taxas de Abstinência: Estudos mostram que indivíduos que incorporam o exercício em seus programas de tratamento têm maiores taxas de abstinência.
Exercício como terapia primária
Evidências científicas mostram que o exercício é uma terapia de primeira linha para a dor crônica. Além disso, é uma estratégia eficaz para reduzir os sintomas de depressão e ansiedade, melhorando assim a saúde mental geral.
No entanto, apesar das evidências robustas sobre os benefícios do exercício para a saúde física e mental, sua integração como parte do tratamento para transtornos por uso de substâncias ainda não é tão difundida quanto deveria ser.
Desafios, obstáculos e oportunidades
Um dos principais desafios é a falta de ensaios clínicos randomizados em grande escala que informem a prática médica dentro destes casos. Barreiras como a falta de tempo, motivação e recursos, além de preocupações com a saúde e medo de desencadear dores, são comuns entre as pessoas com TUS.
Enquanto os benefícios do exercício são amplamente reconhecidos, a falta de evidências específicas torna difícil para os profissionais de saúde prescreverem o exercício como parte do tratamento padrão.
Além disso, a presença de dor crônica concomitante, problemas de saúde mental e questões cardiopulmonares adicionam camadas de complexidade ao desenvolvimento de intervenções eficazes.
Principais Desafios:
- Falta de Tempo e Motivação: Muitos indivíduos com TUS relatam dificuldades em encontrar tempo e motivação para se exercitar regularmente.
- Acesso a Recursos: A capacidade de pagar por academias ou equipamentos pode ser um obstáculo significativo.
- Preocupações com a Saúde: Problemas de saúde e medo de exacerbar dores crônicas podem desencorajar a prática de exercícios.
A importância da formação especializada
A fim de superar esses desafios, é essencial fornecer formação especializada para profissionais do exercício e outros profissionais de saúde. Dito isso, é fundamental que as pessoas com TUS, também sejam atendidas por médicos do esporte.
Essa formação deve abordar não apenas os aspectos físicos do exercício, mas também as complexidades que envolvem a saúde da mente e os desafios únicos enfrentados por indivíduos com transtorno por uso de substâncias.
Ao aumentar a conscientização e a competência nessa área, é possível melhorar a qualidade do atendimento e aumentar as chances de recuperação para aqueles que lutam contra o vício.
Enfrentando o estigma do transtorno por uso de substâncias
Além dos desafios práticos, é muito importante abordar o estigma que muitas vezes cerca o transtorno por uso de substâncias e os pacientes que estão em recuperação.
O estigma pode ser uma barreira significativa para o envolvimento no tratamento e para a busca de apoio. Portanto, é fundamental educar o público sobre a natureza complexa do vício e promover uma abordagem compassiva e baseada em evidências para o tratamento.
Evidências Científicas
Vários estudos apoiam a eficácia do exercício na recuperação de TUS. Por exemplo, o estudo STRIDE mostrou que participantes em um programa de exercício tinham taxas de abstinência significativamente maiores do que aqueles em programas de educação em saúde. Além disso, revisões sistemáticas indicam que o exercício pode melhorar a função física e mental em indivíduos com transtornos por uso de álcool.
Resumo das Evidências:
- Estudo STRIDE: Demonstrou maiores taxas de abstinência em participantes que praticavam exercício.
- Revisões Sistemáticas: Indicam melhorias na função física e mental em pessoas com transtornos por uso de álcool.
Aplicação na Prática Clínica
Embora existam evidências limitadas de ensaios clínicos randomizados em grande escala sobre a eficácia do exercício como parte do tratamento para transtornos por uso de substâncias, os resultados de estudos menores e observacionais são promissores.
Integrar o exercício como parte do tratamento para TUS requer uma abordagem multidisciplinar e individualizada. Portanto, os profissionais de saúde devem trabalhar em conjunto para desenvolver programas de exercício adaptados às necessidades específicas de cada paciente, levando em consideração suas condições físicas e mentais.
Passos Práticos:
- Avaliação Individual: Avaliar as condições de saúde do paciente para personalizar o programa de exercícios.
- Educação e Motivação: Educar os pacientes sobre os benefícios do exercício e fornecer suporte contínuo para manter a motivação.
- Integração Multidisciplinar: Colaborar com profissionais de diferentes áreas para oferecer um suporte abrangente.
O que esperar do papel do exercício na vida dos pacientes?
À medida que a luta contra a crise do transtorno por uso de substâncias continua, é essencial reconhecer o papel fundamental do exercício físico na dependência por uso de substâncias, melhorando os índices de recuperação e bem-estar geral das pessoas afetadas.
Em conclusão, o exercício físico mostra-se uma intervenção eficaz e promissora para pessoas com dependência por uso de substâncias. Com efeito significativos para a saúde física e mental. No entanto, a implementação prática enfrenta desafios que necessitam de soluções criativas e um esforço colaborativo entre profissionais de saúde.
Dessa forma, é hora de aproveitar o poder do exercício como uma ferramenta vital na luta contra o vício.
Cordialmente, Dr Samy Zenun e Equipe Editorial UME
Referência
Nock, N.L., Stoutenberg, M., Cook, D.B., Whitworth, J.W., Janke, E.A., & Gordon, A.J. (2024). Exercise as Medicine for People with a Substance Use Disorder: An ACSM Call to Action Statement. Current Sports Medicine Reports, 23(2), 53-57. DOI: 10.1249/JSR.0000000000001140
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