O Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2) é uma condição crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Além dos tratamentos médicos, o exercício físico desempenha um papel crucial no gerenciamento da glicemia e na melhoria da saúde geral dos indivíduos com DM2. Este artigo fala sobre os benefícios da atividade física para pessoas com diabetes. Como referência principal usamos um artigo de consenso do American College of Sports Medicine, que revisa as evidências mais recentes sobre o impacto do exercício físico em indivíduos com diabetes tipo 2.

De fato, a prática regular de atividade física demonstrou melhorar a sensibilidade à insulina, a redução da glicemia pós-prandial, a função das células β, levou a uma diminuição do risco de doenças cardiovasculares, inclusive pode melhorar a saúde intestinal. Assim sendo, isso pode resultar em uma gestão mais eficaz do diabetes e uma redução do risco de outras doenças. Os benefícios metabólicos e fisiológicos da atividade física podem perdurar por horas após a prática, destacando sua importância no manejo do diabetes e na promoção da saúde geral.

Impacto da atividade física no controle do diabetes 

Vários tipos de atividade física têm demonstrado melhorar a saúde e o controle glicêmico em indivíduos com DM2. Certamente esses benefícios estão diretamente relacionados à melhora da sensibilidade à insulina, à redução da hiperglicemia pós-prandial e ao risco reduzido de doenças cardiovasculares (DCV).

  • Exercício Aeróbio
    • Benefícios: melhora a sensibilidade à insulina, reduz os níveis de glicose no sangue e melhora a função mitocondrial. Metanálises confirmaram que o exercício aeróbico regular pode resultar em reduções na glicemia, na hemoglobina A1C e melhorias em parâmetros metabólicos e de condicionamento físico.
    • Exemplos: caminhada rápida, corrida, ciclismo, natação.
  • Exercício Resistido (exercício com carga)
    • Benefícios: aumenta a massa muscular, melhora a densidade mineral óssea, reduz a pressão arterial, melhora sensibilidade à insulina e o perfil lipídico. Combinado com perda de peso, pode ter efeitos ainda mais significativos, incluindo aumento da massa muscular e reduções adicionais na hemoglobina A1C.
    • Exemplos: musculação, crossfit, exercícios com peso corporal.
  • Exercícios Combinados (Aeróbio + Resistido)
    • Benefícios: a combinação de exercícios aeróbicos e resistido têm mostrado superioridade quando comparados a cada modalidade isoladamente. E como resultado tem-se maiores reduções nos níveis de A1C em comparação com a prática de apenas um tipo de exercício.
    • Exemplos: programas de treinamento que alternam entre exercícios cardiovasculares e musculares, por exemplo, exercício funcional, exercícios com peso corporal, crossfit.
  • Exercício Intervalado de Alta Intensidade (HIIT)
    • Benefícios: melhora a glicemia, aumenta a capacidade física e reduz o índice de massa corporal (IMC). O treinamento HIIT, caracterizado por períodos de exercício de alta intensidade intercalados com períodos de recuperação. Embora seja eficaz, é importante monitorar de perto as respostas ao treinamento, pois o excesso de intensidade pode ter efeitos adversos.
    • Exemplos: sessões de ciclismo ou corrida intercaladas com períodos de descanso ativo.

Comparação entre tipos de treinamento físico

Estudos comparativos entre diferentes modalidades de treinamento físico estruturado mostraram benefícios semelhantes na glicemia e sensibilidade à insulina, com o HIIT apresentando potenciais desafios em termos de lesões musculoesqueléticas.

Embora o exercício aeróbico e de resistência sejam amplamente estudados, modalidades como yoga e tai chi também demonstraram benefícios promissores, mas mais pesquisas são necessárias para entender completamente seu impacto no gerenciamento do diabetes tipo 2.

Controle de complicações agudas e crônicas com atividade física no diabetes

Iniciar um regime de atividade física quando se vive com DM2 pode desencadear uma série de problemas de saúde, tanto agudos quanto crônicos. Entre esses desafios, destacam-se a hipoglicemia e a hiperglicemia relacionadas ao exercício, além da necessidade de adaptações para aqueles que enfrentam complicações crônicas de saúde.

  • Hipoglicemia

Aqueles que controlam a glicemia apenas com mudanças no estilo de vida têm um risco mínimo de hipoglicemia. No entanto, o uso de certos medicamentos para DM2, como a insulina e os secretagogos de insulina, pode aumentar esse risco. Por vezes é crucial ajustar a dose e o horário da medicação, além de monitorar os níveis de glicose antes, durante e após o exercício para evitar episódios perigosos de hipoglicemia.

  • Hiperglicemia

Recomenda-se cautela ao praticar exercícios se a glicemia estiver acima de 300mg/dl. Mesmo sem cetonas elevadas, atividades leves podem ser uma opção para aqueles assintomáticos e devidamente hidratados. Assim para controlar os níveis elevados de glicose pós exercício, ajustes na dose de insulina e resfriamento podem ser necessários, especialmente após atividades intensas.

  • Estresse por Calor

Indivíduos com DM2 têm um risco aumentado de estresse térmico durante a atividade física, devido a dificuldades na regulação da temperatura corporal. A aclimatação ao calor é possível, mas é importante tomar precauções ao se exercitar em ambientes quentes para evitar complicações.

  • Complicações Crônicas de Saúde

A hiperglicemia recorrente aumenta o risco de complicações crônicas do diabetes, incluindo problemas macrovasculares e microvasculares. No entanto, a maioria dos indivíduos pode praticar atividade física com segurança, mesmo com complicações de saúde, seguindo precauções específicas e adaptando o exercício conforme necessário. Primeiramente, é essencial consultar um profissional de saúde para orientação individualizada antes de iniciar um programa de exercícios.

Tempo de exercício e considerações sobre dieta

  • Tempo de Exercício

Estudos têm investigado o momento ideal para o exercício em relação às refeições, principalmente para otimizar o controle glicêmico em pessoas com DM2. Em geral, o exercício aeróbico de intensidade leve a moderada após as refeições tem demonstrado benefícios no controle da glicose sanguínea. No entanto, o impacto do exercício antes do café da manhã ou próximo ao jantar varia entre os estudos, destacando a importância de considerar o momento e a intensidade do exercício para obter os melhores resultados.

  • Ingestão Dietética e Padrões Alimentares

Manter uma alimentação saudável é fundamental para controlar a glicemia e outros aspectos relacionados à saúde em pessoas com DM2. Planos alimentares baseados em alimentos integrais, ricos em nutrientes e balanceados em macronutrientes são recomendados. Embora diversas abordagens dietéticas, como restrição de carboidratos e dietas populares, tenham sido exploradas, é essencial consultar um profissional de saúde para determinar a melhor estratégia dietética individualizada.

Essência do artigo

Em resumo, este artigo de consenso, destaca que a prática regular de exercício físico é fundamental para a gestão do diabetes tipo 2. Os exercícios aeróbicos, de resistência e intervalados de alta intensidade têm mostrado melhorar significativamente a sensibilidade à insulina, reduzir os níveis de glicose no sangue e diminuir o risco de complicações cardiovasculares. Portanto, a combinação desses exercícios pode oferecer benefícios adicionais, tornando o exercício uma parte essencial do tratamento para indivíduos com DM2.

Atividade física no diabetes, prática clínica

Na prática clínica, os profissionais de saúde devem incentivar os pacientes com DM2 a incorporar atividades físicas em sua rotina diária. É importante personalizar o plano de exercícios de acordo com as capacidades e preferências de cada indivíduo, monitorando regularmente os resultados e ajustando as recomendações conforme necessário. Além disso, a educação sobre a importância de evitar o sedentarismo e a implementação de pausas ativas durante o dia são estratégias eficazes para melhorar o controle glicêmico e a saúde geral.

Recomendações para a prática de exercícios no diabetes

Para maximizar os benefícios do exercício físico no controle do DM2, é importante seguir algumas recomendações gerais:

  1. Frequência: praticar exercícios aeróbicos pelo menos 3-7 dias por semana e exercícios de resistência 2-3 dias por semana.
  2. Duração: realizar pelo menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade intensa por semana.
  3. Intensidade: manter uma intensidade que permita aumentar a frequência cardíaca e a respiração, sem causar desconforto excessivo.
  4. Interrupção do Sedentarismo: evitar longos períodos de inatividade, incorporando pequenas pausas ativas ao longo do dia.

Exemplos de Programas de Exercícios para Indivíduos com DM2

Acima de tudo, isso não é uma recomendação, apenas um exemplo para melhor entendimento da matéria. Dessa maneira, sempre orientar que o paciente, procure um profissional de educação física para prescrever e adequar o seu treinamento às suas condições de saúde.

Exemplos de Programas de Exercícios para Indivíduos com DM2

O que é possível concluir?

Diversas formas de atividade física, abrangendo desde exercícios planejados até atividades de flexibilidade e equilíbrio, têm mostrado grandes benefícios para a saúde e o controle glicêmico em pessoas de todas as idades com DM2.

As mais recentes diretrizes de atividade física são amplamente aplicáveis aos pacientes com diabetes, incluindo jovens, mesmo que algumas modificações possam ser necessárias. É crucial que todos incorporem regularmente a atividade física em suas rotinas, reduzindo o tempo de sedentarismo e interrompendo longos períodos de inatividade com pausas frequentes.

Mesmo em casos de complicações de saúde, a atividade física pode ser segura e eficaz. Caso o paciente tenha realizado uma cirurgia metabólica, o treinamento físico pré e pós cirurgia bariátrica pode potencializar ainda mais seus benefícios no controle da glicemia e melhora do diabetes. Por fim, é essencial abordar as barreiras e desigualdades que impedem a adoção e a manutenção da atividade física e do exercício, visando maximizar a participação e os resultados positivos para todos.

Em síntese, profissionais de saúde devem promover a atividade física como uma estratégia terapêutica complementar e eficaz para o tratamento do diabetes.

 

Cordialmente, Dr Samy Zenun e Equipe Editorial UME

Referências

Kanaely, J. A., Colberg, S. R., Corcoran, M. H., Malin, S. K., Rodriguez, N. R., Crespo, C. J., Kirwan, J. P., & Zierath, J. R. (2022). Exercise/Physical Activity in Individuals with Type 2 Diabetes: A Consensus Statement from the American College of Sports Medicine. Medicine & Science in Sports & Exercise, 54(2), 353-368. DOI: 10.1249/MSS.0000000000002800

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